Dois caminhos e dois ‘ boca-boca’.


BY: Estevao Valente Dia chuvoso.
Surfistas no Arpoador.
Ele melancólico foi até a PEDRA para ver o Mar Encapelado.
Seu coração era tomado por uma tristeza infinita.
Sua alma estava rebelada contra tudo e contra todos.
Só desejava a morte.
Envolto em uma nuvem de desanimo não percebeu as pedras soltas e caiu no Mar.
Viu agua, viu bolhas, e tudo se apagou.
Assustado sentiu uma boca carnuda a lhe fazer um “boca-boca” e expeliu agua salgada.
Ao abrir os olhos viu um jovem surfista moreno, não pardo, moreno mesmo, de belo corpo distribuído em 170 cm, com olhos alegres e sorriso franco.
Não era belo como um deus do Mar, mas era agradável de ser ver ao escapar da morte, uma morte tão desejada.
“ A ambulância já vem”, falou delicadamente o jovem moreno.
E lá foi Ele para o Miguel Couto.
E o Surfista na praia ficou.
O tempo passou.
Sepultamento de um amigo.
O amigo e seus filhos eram e são ainda queridos e por isso havia um grande comparecimento de pessoas.
Bom de memória visual, com memória fotográfica, Ele viu de longe o Surfista.
O coração disparou, mas Ele, agora casado, ficou na dele.
E o Surfista não o reconheceu.
O tempo passou.
Um dia, um amigo, o genro daquele que foi sepultado, o levou na casa D’Ele.
Mas, o Surfista, agora casado, envelhecido, gordinho, careca, não o reconheceu.
Ficaram amigos de Redes Sociais, pois moram em cidades diferentes.
Ele estava doente, mas foi a um evento na cidade onde mora o Surfista
No evento Ele passou mal e desmaiou.
O Surfista prontamente aplicou uma massagem no coração, completando com um “boca-boca”, e Ele se recuperou.
MAS, um ficou olhando para o outro de maneira muito estranha.
O Surfista estupecfato, com olhos arregalados de uma maneira espantosa, perplexo.
Ele não dizia nada e seu olhar era de alegre compreensão.
“ Vou com ele”, falou o Surfista quando a ambulância do Instituto do Coração chegou.
Já no quarto.
“ Foi você que eu salvei no Arpoador? Porque não me falou logo em sua casa?”
“ Não quis lhe causar problemas.”
“ Problemas por quê?
“ Sei lá...”
“ Nunca esqueci você. Nunca esqueci de sua boca, de seus lábios. De seu olhar ao despertar. É um tormento até hoje. Mesmo casado me imagino lhe beijando. Por que não se revelou para acabar com minha agonia?
“ Agonia?”
“ Sim. Uma agonia. Eu teria dado tudo para estar com você por esses anos todos. Beijar e beijar você por horas a fio. Nenhum beijo me fez esquecer a sua boca. Mesmo o de minha mulher...”
E o Surfista se inclinou dando um beijo n’Ele.
Um beijo longo.
Um beijo que eu não sei como descrever.

Foto 1 do conto: Dois caminhos e dois ‘ boca-boca’.



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