BY: MisteryonMcCormick CAPÍTULO TRÊS
Armadilha
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Na segunda mais uma vez começava a minha labuta. Acordei ás 06h00min e tomei um banho e fui para a cozinha comer algo. Eu não tinha fome de manhã, mas tinha que comer algo, pois não aguentava ficar em jejum até o almoço.
Terminei de comer, escovei os dentes e entrei no quarto do meu pai bem devagar e no escuro mesmo eu dei um beijo no rosto dele.
- tchau paizão, te vejo a noite.
- até – falou ele retribuindo o beijo e logo em seguida voltando a dormir.
Eu sai e fechei a porta. Desde que minha mãe tinha morrido eu nunca ficava longe do meu pai sem me despedir com um beijo, nós nunca sabíamos quando poderia chegar nossa hora. Logo fui até o ponto de ônibus.
Eu esperei pelo ônibus que não vinha nunca e as pessoas não paravam de chegar. Apesar da demora o ônibus apareceu e cheguei à porta da empresa 07h50min. Eu fui até o 5º andar que era o andar onde ficavam os armários e etc... Troquei de roupa, coloquei meu terno a gravata e entrei no elevador. Adam estava dentro do elevador.
- bom dia – falei.
- Bom dia – respondeu ele. – ficamos apenas nós dois no elevador naquele silêncio. O elevador parou no 8º andar e para meu azar entrou a turma de uns estagiários invejosos que ficavam falando mal de mim.
- bom dia Adam – falou um deles tentando mostrar intimidade.
- bom dia Hunt – respondeu ele.
No 14º andar a porta se abriu e Adam pediu licença e desceu do elevador, mas antes que a porta de fechasse ele colocou a mão impedindo.
- Mike, você poderia, por favor, mandar um buquê de flores para Megan?
- sim senhor, algum recado? – perguntei.
- sim, eu te passo por e-mail.
- ok.
- obrigado Mike.
A porta do elevador se fechou e por alguns segundos foram silencioso e logo começaram os burburinhos e um dos estagiários falava algo e os três rapazes e duas moças que estavam com ele riam e olhavam para mim.
Eu tentei não me importar, mas ouvi algo em sua frase que soou como “será que ele geme muito?”.
O elevador parou no 18º andar e os estagiários desceram e logo estava no 20º andar. Eu desci do elevador acendi as luzes, destranquei o alarme e abri a porta da Sala do Adam. Liguei as luzes do enorme aquário que ficava na recepção, coloquei copos descartáveis no bebedouro, conferi que a responsável tinha feito café e confirmei, o sentindo queimar na minha língua.
Eu fui para a recepção, liguei meu computador e exatamente ás 08h10min eu recebi o e-mail com a frase “me perdoe, eu te amo muito”. Eu liguei na floricultura e encomendei duas dúzias das flores que Megan gostava. Lírios eram suas flores preferidas. Eu gostava muito de flores, sempre fui apaixonado por suas formas e cores diferenciadas. Passei o endereço da casa de Adam e pedi que fossem entregues depois dás 10h00min.
Adam saiu do elevador ás 08h45min.
- e ai Mike já encomendou as flores?
- sim senhor, lírios.
- obrigado, não sei o que faria sem você.
Ele foi em direção à sala e logo olhou para mim.
- esqueci-me do café. – falou ele.
Eu coloquei café em uma caneca e entreguei para ele.
- Mike, ás 09h30min eu tenho uma reunião marcada com todos os sócios, é uma reunião importante e gostaria que não marcasse nenhum compromisso pra mim na parte de manhã e que você anotasse recados de todas as ligações, a não ser que seja Megan.
- sim senhor.
Ele pegou o café e entrou na sala.
Eu me sentei próximo ao computador e peguei minha pasta e comecei a digitar as planilhas, atualizando os valores o que me exigia total atenção e já que os sócios não chegariam até ás 09h30min eu estava mais tranquilo quanto á isso. Eu atendi a algumas ligações e antes que eu percebesse já eram 09h15min.
Eu me levantei estiquei as pernas e tomei um copo de água e assim que me sentei para digitar a planilha ouvi o sino do elevador chegando ao andar.
- chegaram cedo. – pensei comigo mesmo.
Eu olhei para o elevador e vi meu pai saindo.
- PAIZÃ... quer dizer, PAI? Tá fazendo o que aqui? – eu me levantei e dei a volta na bancada.
- eu vim falar com seu chefe.
- o que? Por que?
- eu disse que te defenderia com unhas e dentes e não vou deixar que um bando de preconceituoso faça você se sentir mal.
- o que? Eu disse que não me importo.
- eu sei como você fica quando sofre preconceito, você fica remoendo por dentro.
- pelo amor de Deus, Buda, Moisés, ou sei lá o que... se você me ama é hora de provar isso. Vai embora pai, eu vou perder o emprego. – falei isso fazendo com que ele ficasse de frente para o elevador. Eu apertei o botão esperando o elevador que ainda estava no 4º andar.
Eu olhei para trás e Adam estava lá dentro com a porta fechada.
7º, 8º, 9º, 10º, 11º... o elevador demorava muito para subir.
- mas que fique registrado que eu tentei. – falou meu pai que estava com uma bermuda vermelha até o joelho é uma camisa branca segurando a chave do carro.
- por favor pai, se você quer subir na vida tem que engolir alguns sapos e outras coisas. – falei para ele.
O elevador chegou e abriu a porta e antes que meu pai entrasse Adam abriu a porta.
- Mike você pode... – ele olhou para meu pai. – Este senhor veio me ver? – falou Adam.
- não conta para ele que sou gay, ou eu vou ficar com raiva de você – falei sussurrando e ele concordou sinalizando com a cabeça.
Meu pai se virou e apertou a mão de Adam.
- esse é meu pai.
- Senhor Fabray? Que prazer finalmente conhecê-lo. – falou Adam com um sorriso no rosto.
- digo o mesmo – falou meu pai. – gostaria que fosse em uma ocasião melhor.
Eu estava travado não sabia o que fazer.
- algum problema? – Adam disse isso olhando para mim e para meu pai, mudando sua expressão que agora demonstrava preocupação.
- eu nem sei o que dizer – falei.
- vamos para minha sala – falou Adam mostrando a porta – lá podemos conversar. Você vem Mike?
- não – respondi – vou terminar o relatório.
Eles entraram e fecharam a porta. Ao mesmo tempo senti uma dor infernal na cabeça.
- eu estou frito – falei dando a volta na mesa e me sentando.
Eu coloquei a mão no meu rosto e fechei os olhos tentando relaxar. Quisera eu que aquilo fosse um pesadelo.
Eu voltei a escrever o relatório, mas eu estava muito ansioso e não conseguia me concentrar, eles já estavam lá dentro a mais de 15 minutos e foi quando caiu a ficha que os outros chegariam em breve, mas antes que eu terminasse de organizar meus pensamentos a porta do elevador se abriu e todos os 4 saíram de dentro. Eu dei um pulo da cadeira
- bom dia! – essa frase ecoou porque todos disseram ao mesmo tempo.
- meu irmão já chegou? – perguntou Xavier.
- pra falar a verdade ele... – e pronto. Antes que eu terminasse a frase ele abriu a porta e todos entraram e Adam pediu que eles fechassem a porta.
- eu vou pedir demissão e mudar de país. – falei desesperado. – vou perder anos de trabalho. Talvez eu tenha uma chance se meu pai realmente não disser nada sobre minha sexualidade. Com certeza perderia o emprego.
mais 10 minutos se passaram até que Steve abriu a porta e chamou meu nome.
- Mike?
- sim.
- vem aqui, por favor.
Eu estava nervoso com borboletas no estômago e achei que iria desmaiar... Até que não seria uma má ideia.
- com licença – falei entrando e fechando a porta.
Meu pai estava sentado na cadeira de frente para Adam e Gray estava sentado em uma das poltronas da sala enquanto Xavier, Steve e Vanessa estavam em pé.
- seu pai estava me contando o que aconteceu e eu contei para todos.
- si-sim. – falei.
- quem é esse funcionário? Eu quero o nome dele e de todos que você ouviu dizendo.
Eu fiquei calado e não conseguia falar.
- Mike? – falou meu pai.
- com todo o respeito, mas eu não dizer os nomes.
- você precisa dizer o nome – falou Xavier – você não pode trabalhar em um lugar e ficar ouvindo essas coisas, não estamos mais no colégio para que você tenha receio de vir trabalhar.
- quem são? – falou Vanessa se aproximando de mim.
Eu fiquei calado e olhei para Adam.
- eu sei que você está protegendo eles, mas duvido que eles fariam o mesmo por você. – falou Adam.
- eu não espero que eles façam o mesmo por mim, só acho que denunciá-los vai apenas piorar minha situação.
Eu olhei para meu pai e ele fez um sinal com a cabeça bem discreto e me fez entender que ele não tinha contado que eu sou gay.
Ficamos todos em silêncio alguns segundos.
- pessoal à reunião está cancelada – falou Adam. Pronto, eu estava frito a reunião importante tinha sido cancelada por causa de um problema pessoal insignificante.
- sinto muito senhor, mas não vai ouvir o nome deles pela minha boca. – falei – e se me der licença eu preciso terminar o relatório que o senhor pediu com urgência.
Eu me virei sai da sala e fechei a porta e voltei para o balcão da recepção e me sentei respirando fundo. Estava desempregado.
Eu comecei a secar os olhos e meus olhos estavam húmidos, sempre que estava em uma situação de muita pressão eu não conseguia impedir que meus olhos humedecessem. Eu não queria chorar, mas meus olhos ficavam molhados e as pessoas pensavam que estava chorando.
Eles ficaram na sala mais uns 15 minutos e logo Xavier, Vanessa, Gray e Steve saíram. Eu me levantei e todos vieram até mim.
- fique tranquilo Mike, não vamos te mandar embora – falou Xavier. Meu pai provavelmente tinha dito que eu tinha muito medo de perder o emprego e esse tinha sido um dos motivos para que eu não contasse sobre o assédio moral que eu estava sofrendo na empresa.
- vai para a casa e descanse, pegue uma folga hoje – falou Gray.
- não posso, tenho muito trabalho.
- não é um pedido – falou Steve – Seu pai nos contou como você fica envergonhado por falar sobre esse assunto.
- eu estou bem – falei forçando um sorriso.
- Mike – falou Adam saindo da sala com meu pai – eu sou seu chefe e eu estou mandando que você vá para casa e pegue o resto da semana de folga.
- eu te dou uma carona – falou meu pai.
- pode ficar tranquilo, eu vou chamar um dos estagiários para assumir seu lugar essa semana, tenho certeza que eles matar uns aos outros quando eu disser isso. – ele disse isso fazendo todos rirem e eu forcei um sorriso.
Eu peguei minha mochila e dei a volta na mesa e fui até meu pai.
- fica tranquilo que você continua sendo meu assistente preferido. Só quero ver você na segunda.
- tive uma ideia – falou Vanessa – que tal Mike escolher o estagiário que vai assumir o lugar dele hoje?
- ótima ideia – falou Adam. – vamos todos com eles.
Todos entraram no elevador e eu fiquei lá no meio deles me beliscando para que eu acordasse do pesadelo.
O elevador parou no 18º andar e a barulheira parou quando a porta se abriu e todos ficaram trabalhando e olhando pelo canto do olho.
- bom dia – falou Adam.
- bom dia – respondeu todo o andar.
- gostaria de fazer um comunicado. – seu colega de trabalho e meu assistente Mickey está saindo em uma miniférias e ele só vai voltar na próxima semana e até que ele volte eu vou precisar de um ajudante temporário.
Nesse momento todos prestaram atenção.
- e como ele tem minha total confiança é ele quem vai escolher seu substituto.
Eu olhei em volta e vi Hunt com um rosto espantado. Aqueles que riram de mim também tinham o mesmo rosto, pelo menos aqueles que eu sabia que tinham falado de mim. Praticamente todo escritório ria de mim e eu não daria essa chance para alguém que não merecesse. Foi então que eu lembrei de uma garota que tinha entrado a duas semanas. Eu tinha dado umas dicas de entrevista e ela tinha sido contratada e desde o dia que foi contratada eu nunca a vi em nenhum grupinho e ela era sempre muito educada, uma das poucas pessoas que conversavam comigo.
- Sabrina – falei apontando para ela. Ela era a pessoa certa, como tinha dito Adam eu fui contratado porque era uma pessoa confiante e ela também era.
Ela veio andando nós e Adam apertou a mão dela.
- parabéns Sabrina – falou Adam.
- o senhor não vai se arrepender – falou Sabrina com um sorriso estampado no rosto. Ela olhou pra mim e apertou minha mão.
- obrigado Mickey – falou ela.
- você é a pessoa certa para esse trabalho, eu vou te ensinar o básico e depois fica por sua conta.
Entramos no elevador e voltamos para o 20º andar. Eu mostrei o local e tudo o que ela tinha que fazer no dia e entreguei a agenda telefônica e os dois celulares da empresa que estavam comigo.
Eu bati na porta da sala de Adam.
- eu já ensinei tudo para ela senhor.
- excelente. – falou Adam com um sorriso. – e não se atreva a voltar aqui até segunda.
Eu não respondi nada e entrei na sala e sentei na cadeira.
- posso te perguntar uma coisa?
- claro Mike – falou Adam.
- por acaso isso é um tipo de armadilha? Senhor... por acaso eu escolhi a pessoa que vai ocupar meu lugar daqui pra frente?
- claro que não Mike. Depois do que seu pai me contou eu preciso tomar uma providencia. E como você não quer dizer os nomes eu preciso descobrir do meu jeito e posso eliminar uma pessoa da minha lista... Sabrina. E para evitar problemas com eles prefiro que você não esteja aqui.
- obrigado – falei.
- agora vai para casa e descanse.
Eu sai da sala e encontrei meu pai, descemos o elevador e logo chegamos ao seu carro. Entramos e eu fiquei calado toda a viagem até em casa.
- você está com raiva de mim? – perguntou meu pai quando entramos em casa.
- não – respondi.
- tudo bem – falou meu pai.
- vou para meu quarto dormir um pouco. – falei.
- tudo bem – falou meu pai.
Eu subi as escadas tirei minha roupa e fiquei pensando o quão ridículo eu estava parecendo aos olhos dos meus chefes. Parar a empresa toda por causa de um problema supérfluo como esse.
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