BY: victor-pass-sjc-sp CAPÍTULO 3 – Minha Mãe... Preocupações não Muito Úteis
Mais uma vez eu acordei de pau duro, e mais uma vez, eu tinha sonhado com o Caio. Só que dessa vez, ele tinha me dito que me queria, e eu não estava na sala, eu estava no meu quarto. Levantei e arrumei rapidamente a minha mala, e fui tomar café. A minha mãe já tinha acordado, e estava me esperando na mesa.
_ Bom dia filho!
_ Bom dia Mãe.
_ Você dormiu bem essa noite?
_ Sim. E como foi ontem com a Gilda?
_ Foi tudo bem. A que horas vocês vão para o sítio?
_ o Caio já deve estar chegando.
_ E você já deixou as suas coisas arrumadas?
_ Sim. É só um fim de semana, não tem porque levar muita coisa...
_ Mais eu vi no jornal que o tempo vai virar, é bom você levar uma calça e um agasalho, pelo que eu sei lá não é muito quente...
_ Pode ficar tranquila.
Eu terminei de tomar o meu café, e fui terminar de me arrumar. Eu não sabia muito bem, mais toda vez que eu ia sair com o Caio, eu tinha uma necessidade de me arrumar como se estivesse indo ver a pessoa mais importante do mundo. Uma coisa que não era muito normal, que era eu dar ouvidos a alguma coisa que a minha mãe falasse, eu pus um agasalho de moletom, e uma calça também, mais pra usar durante o dia, já que pra dormir eu dormia de samba-canção, não importa o frio que esteja fazendo. E ainda mais que certamente eu não ia ter muito tempo pra dormir, se eu me lembro bem, essas festas no sítio do Caio são regadas a muita bebida e pouco tempo pra dormir, eu disse muita bebida, mais devo dizer também algumas drogas, em geral maconha. Aliás, é isso que me faz mais mal, o Caio fuma. Bom pelo menos, eu já o vi com um cigarro na mão.
A esse respeito, eu fiz uma anotação mental: “Perguntar a ele se ele realmente está fumando, ou se quando eu vi foi apenas um pega pra experimentar”, não que eu concorde com isso, mais pelo menos isso vai me deixar mais tranquilo quando nós sairmos juntos.
Verificando se eu não tinha me esquecido de mais nada, eu fechei a minha mala, ou melhor, mochila, e fui escovar os meus dentes. Quando eu estava no banheiro, eu ouvi a minha mãe entrar no meu quarto.
_ Mãe, o que foi?
_ Não foi nada, eu só vim ver se você está pronto.
_ Estou quase.
_ E a mala?
_ Só falta à escova de dente que eu estou usando agora.
_ Ta.
_ Mãe?
_ Fala filho.
_ O caio já chegou?
_ Não.
_ Ta.
Ela saiu, e eu voltei pro quarto e fui guardar a escova na mochila. Eu vi um pacotinho colocado por cima das coisas que eu não tinha posto. Quando eu peguei pra ver o que era, eu tive certeza que ela tinha mexido na minha mochila, porque agora tinha mais uma calça e um pacote de camisinha, e eu tinha toda certeza do mundo que eu não tinha posto isso La. Eu não tinha me esquecido desse detalhe, eu costumo andar sempre com uma na carteira, mais se eu conheço bem a minha mãe, aí tem dedo dá Gilda.
_ Vicente, o Caio está aqui!
Quando eu já ia pegando a mochila pra sair e dava uma olhada rápida no quarto pra ter certeza de não estar esquecendo nada, ele estava atrás de mim, me dando um abraço de urso. Se eu não o conhecesse, eu poderia até pensar que isso era algo mais, mas como ele só não era meu irmão por coincidência, eu tive que lutar contra a minha vontade de ficar no lugar, e rindo lutei contra o abraço apertado dele.
_ E aí Caio, vamos?
_ Sim, afinal, alguém tem que estar lá quando os outros chegarem, não?
Nesse momento a minha mãe entrou no quarto, bem a tempo dele me soltar.
_ Caio seus pais não vão?
_ Não tia, eles estão indo pra casa de uns amigos deles em Piracicaba.
_ Não vai ter nenhum adulto La?
_ Sim, eu o Vicente e mais alguns.
_ Eu falo um responsável...
_ Mãe!
_ Certo. Você vai por onde?
_ Vô pela Dutra, você se lembra onde fica o sítio?
_ Não.
_ Fica próximo a Pinda.
_ Ah sim.
_ Bem vamos Caio, vê que não sou eu quem está atrasando hoje.
Ele riu antes de responder.
_ Certo.
Nós descemos e enquanto nos despedíamos a minha mãe disse as coisas padrão.
_ Juízo, cuidado e não beba de mais. Ah, Caio, ele não está com a carteira de motorista ainda. E...
_ tá mãe.
_ Vão com Deus.
Quando nós saímos, eu pude notar que ela não entrou, pelo contrario, ela trancou a porta e entrou no carro dela, um Renault Clio prata.
_ Seu pai está vindo esse fim de semana?
_ Não.
_ Então por que a sua mãe está tão arrumada daquele jeito?
Depois que ele falou, eu parei pra pensar, realmente ele tinha razão, ela estava arrumada. Num flash eu lembrei.
_ Ela vai fazer compras com a Gilda esse fim de semana. Como se ela não andasse com outra pessoa.
Ele riu. Depois se virou pra mim e perguntou:
_ Vicente, você se importa de dirigir pra mim?
_ Mais como a minha mãe acabou de dizer, eu ainda não tenho a carteira.
_ Eu estou morto... Mal consegui pregar o olho essa noite.
_ Por quê?
_ Só pensando...
_ Em que? Na Lívia?
_ É. Eu não sei como eu pude fazer essa cagada cara.
Nesse momento eu olhei e reparei no seu rosto, além de fundas olheiras, os olhos dele estavam vermelhos.
_ Caio você andou fumando por acaso?
_ não. Claro que não.
_ Por que “claro que não”?
_ Eu não curto essas coisas, muito obrigado por pensar assim...
_ Você já me deu motivos pra pensar assim... Lembra do churrasco na casa do Eduardo? Eu vi você fumando.
Ele me olhou com uma cara de decepção e disse:
_ Eu só fiz aquilo uma única vez pra experimentar, ver qual era a graça. Mais não era a minha praia.
_ Então por que os olhos...
_ Além de maconha, chorar uma boa parte da noite ajuda, você não acha?
_ Desculpe. Você está tão preocupado assim?
_ Estou. Se isso for mesmo verdade, o que eu vô fazer Vicente? Eu moro com os meus pais, não trabalho, não tenho dinheiro pra manter uma casa...
_ Cara, foi mal, mais pensasse nisso antes de fazer a coisa não?
Um silêncio se seguiu depois que eu disse isso. Eu me lembrei de quando ele tinha me contado que a Lívia estava grávida. Foi na minha casa, numa das noites em que a minha mãe tinha saído com a Gilda. Ele chegou muito transtornado e olhos vermelhos, mais dessa vez eu não tinha pensado em outra coisa, porque ele ainda estava chorando. Depois de tomar um copo de água com açúcar e pegar outro de whisky.
Ele respirando fundo me contou que ela tinha dito que talvez estivesse grávida. Eles já não estavam mais juntos há umas duas semanas, e ela foi procurar ele na casa dele, dizendo que a menstruação dela estava atrasada. Eu lembro a cara de medo, o olhar aterrorizado no rosto dele, e enquanto eu dava uma “bronca”, eu o abracei para tentar consolar. Depois de um tempo ele disse:
_ Eu sei, mais pra te falar a verdade, eu não sei se esse filho é realmente meu. Quero dizer, se ele é realmente verdade. Tipo, todas as vezes que nós transamos, eu tava de camisinha, eu não queria isso pra mim. A única vez que foi sem, ela disse que tinha tomado à pílula.
_ Vai saber, você acha que ela pode ter te enganado?
_ Não. Quero dizer, não tenho certeza disso... Mais vamos falar de assuntos agradáveis. Você dirige pra mim ou não?
_ Dirijo. Mais se tiver algum guarda e nos parar?
_ Você dá a minha carteira, eu sei que dizem que nós somos parecidos...
_ Ta. Eu faço isso. Agora, nós não temos nada em comum... A não ser o branco dos olhos.
Ele riu. Quem não nos conhecia a fundo, realmente pensava que nós éramos irmãos, e na foto da carteira de motorista dele, ele estava realmente parecido comigo.
Ele parou num posto de gasolina para abastecer e comprar umas cervejas e eu assumi a direção da Ford Ranger dele.
_ Caio, por que você está com o carro do seu pai?
_ Pra viajar, a minha mãe prefere ir no Astra, e como eu queria vir pro sítio, o meu pai mandou que eu trouxesse algumas coisas que o caseiro tinha pedido, e me deixou com o carro dele.
Eu nunca tinha dirigido um carro como aquele, eu estava mais acostumado ao Renault dá minha mãe, ou ao Corolla do meu pai. Eu estava meio que com medo de dirigir aquela caminhonete cara... Eu me ajeitei no banco de couro e pus o cinto de segurança, e fiquei esperando o Caio voltar com as cervejas e com as chaves. Ele voltou e rindo ele me disse:
_ Olha, você combinou bem com o carro...
_ Por quê?
_ Você ficou com uma cara de fazendeiro americano...
_ Só pelo fato de ser loiro?
Ele continuou rindo e deu a volta e entrou.
_ Também, mais você parece estar bem à vontade aí. Vamos?
_ Sim, mais eu ligo o carro com o dedo?
_ As chaves não estão aí?
_ Não.
Ele olhou no bolso, e deu um pulo.
_ O que foi?
_ Eu perdi as chaves!
_ Vai à loja de conveniência e vê se você não as esqueceu La.
Ele saiu e eu fiquei olhando ele se afastar. Que corpo! O Caio tinha mais ou menos a minha altura, polca coisa mais alto, mais ou menos um e noventa, distribuídos em um corpo malhado e forte. Eu já tinha tido a oportunidade de vê-lo sem camisa, e mesmo sem roupa... Para mim, era a visão do paraíso. Eu tinha 1 metro e 87 mais ou menos, era magro, e não era tão forte como o Caio. Ele tinha os cabelos loiros na altura dos ombros. Eu tinha os cabelos loiros, e também os usava compridos na altura do ombro ou um pouco mais pra baixo.
Ele voltou com as chaves na mão.
_ Eu tinha esquecido elas no balcão da loja.
Enquanto ele me passava às chaves ele disse:
_ Vamos? Acho que agora nós podemos ir.
Eu peguei as chaves da mão estendida dele, e liguei o motor que pegou rápido. Em poucos minutos ele estava cochilando a sono solto, e eu podia ficar olhando de vez em quando pra ele. De vez em quando eu deixava a minha mente correr longe. Eu o imaginava me mandando parar numa estrada secundária e com movimentos rápidos ele começava tirar a minha roupa enquanto eu tirava a dele. No fundo, era o que eu queria que acontecesse mesmo.
Era bem engraçado eu estar num carro tão grande como aquele, parecia que todo mundo tinha medo de eu passar por cima, que bastava eu acelerar um pouco mais, que as pessoas encostavam pra me dar passagem. Era realmente bem engraçado, até os caminhoneiros olhavam com curiosidade pra dentro. Eu podia jurar que vi a cara de espanto de um deles quando viu que quem estava dirigindo era um “menino” de 18 anos, e quem estava dormindo ao lado dele era outro com mais ou menos a mesma idade. Enquanto eu pensava nessas coisas, e ao mesmo tempo pensava no Caio me mandando entrar na estrada secundária, ele acordou sem que eu percebesse:
_ Entra na próxima entrada à direita, ta.
Eu dei um pulo:
_ Você quer me matar!
Confesso que enquanto ele ria, o meu coração estava disparado, e eu creio que isso ficou meio na minha cara. Confesso que eu pensei que ia ser agora, mais quando eu reduzi e entrei no acostamento da Dutra e vi uma lanchonete que era o ponto de encontro pra maioria das pessoas que não conheciam ou não lembravam como chegar ao sítio: “LEITE AO PÉ DA VACA”. Quando eu reconheci o lugar, eu me acalmei, e me senti um pouco frustrado.
_ Calma, o que você quer, eu vô te dar quando nós sairmos do asfalto.
Outra vez eu senti o meu coração disparar.
Quando nós entramos na estradinha de terra, ele mandou que eu parasse. O meu coração estava batendo como se fosse um tambor de escola de samba em dia de desfile.
_ Toma.
Ele me estendeu a mão com uma latinha de cerveja. Enquanto eu pegava, ele comentou:
_ Você tinha que ter visto a sua cara, parecia que eu ia te atacar, sei lá; pular em cima de você...
_ Do jeito que você falou, e com a cara que você me olhou...
Eu dei partida no motor de novo, e enquanto abria a minha latinha eu retomei a estrada.
_ E aí, deu pra descansar?
_ Sim. Já to pronto pra outra.
_ nem brinca...
_ Cério, que venham mais quantas noites forem precisas...
_ Qual é a entrada mesmo?
_ Vai acompanhando a estrada. Não tem erro.
Depois de mais uns minutos na estrada de terra, ele mostrou uma entradinha, que mesmo que ele não tivesse mostrado, eu me lembraria dela com toda a certeza.
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Os Imorais Falam de Nós - Capítulo 2