Saudade no corpo


BY: marcos Vítor deixou o corpo desfrutar da maciez do lençol, empinando ligeiramente a bundinha, sentindo que ela pedia pelo seu homem. A manhã lhe excitava, a pele pedia pelo calor de um macho, pelas mãos firmes de Isaías. Abriu as pernas ligeiramente; o cuzinho agora exposto sem ter a quem servir. Estava preguiçoso, após uma longa noite de sono para compensar o excesso de trabalho dos dias anteriores, e nestes momentos de indolência é que seu corpo pedia por uma pica que viesse se saciar. Olhou para o lado e imaginou ter ali seu homem, dormindo com aquela expressão tranqüila que tantas vezes ficara admirando em silêncio, os ombros largos desnudos, o peito másculo, o lençol cobrindo o torso relaxado e viril apenas pouco abaixo do umbigo.
   
Manteve o olhar sobre o lençol vazio por um bom tempo. Sua mão vagarosamente resvalou para baixo, passou pelo pênis gracioso e aos poucos chegou ao seu sexo, sua área mais sensível, a parte preferida de Isaías. Ficou ali, acariciando as beiradas tenras de seu buraquinho, carente da maestria dos carinhos de seu macho. Em outros tempos, Vítor agora vagarosamente afastaria o lençol para descobrir os pelos ásperos da púbis negra, o cacete naturalmente inchado, a pele sedosa do membro que tanto lhe realizava, os ovos relaxados. Iria até lá e beijaria delicadamente os pelos, o membro, os bagos, aquele conjunto de órgãos que lhe proporcionava tanto prazer. Com cuidado para não acordá-lo, lambia e beijava, agradecendo, homenageando a superioridade do marido, daquele deus que havia lhe libertado, que havia lhe mostrado qual era o seu caminho para a realização.
   
Quantas vezes não ficara admirando aquele corpo, a perfeição de suas formas másculas, a força que Isaías emanava com a tranqüilidade dos varões. Quando beijava e lambia o órgão do marido, sabia que em pouco tempo o membro semi-inchado cresceria e alcançaria a ereção plena, a cabeça majestosa revelada pouco a pouco pelo prepúcio, o talo que logo se levantaria, pronto para servir-se do passivo. O macho despertaria aos poucos, respondendo preguiçoso às carícias daquele que o adorava. Assumiria o comando, afagando seus cabelos, levantando seu corpo para tomar o ânus indefeso, explorando sem pressa aquele frágil buraquinho. E então extrair gemidos quase sussurrados daquele outro homem que, conformado com a impotência, se rendera a tornar-se seu viadinho.
   
Com o cacete rijo enfiado até a garganta, tinha as pernas escancaradas por Isaías. O macho o mantinha de quatro por um longo tempo, percorrendo toda a área de seu cuzinho, lambendo, beijando, acariciando, mordiscando, relaxando qualquer resistência que o pequenino orifício de Vítor pudesse apresentar. O passivo se esmerava em mamá-lo, em abocanhar todo o membro, engasgando mas insistindo em engolir de novo, cada vez mais e mais devotado enquanto o outro estimulava seu sexo. Desesperava-se de prazer com as artimanhas de Isaías e beijava o membro arfando, cada vez mais ansioso para servi-lo.
   
Vítor lembrava-se agora daquela sensação, sentia dor pela falta do domínio carinhoso com o qual não podia mais contar, e seus dedos, sem que ele nem percebesse, tentavam simular inutilmente a língua ausente de Isaías em suas dobras. Sua boca como que sentia o volume do membro rijo do macho que já fora seu, o gosto do cacete de seu dono, o cheiro daquela pica que o domara e o conquistara. Ele se virara lentamente, estava agora de bruços, o corpo rijo da angústia pela falta do marido, a pele arrepiada, o tesão concentrado em seu cuzinho carente, o pequeno pênis como sempre relaxado, com aquela aparência frágil e delicada que tanto fascinava Isaías e que tantas vezes o macho ridicularizara num misto de crueldade, compaixão e ternura.
   
Veio-lhe à mente um dos últimos encontros. Ele deitando-se na cama após sair do banho, perfumado e pronto para a posse; o macho vendo televisão expondo displicentemente o corpo majestoso. Num gesto tranqüilo, voltou-se para ele, olhou-o e sorriu para si mesmo. Vítor perguntou timidamente do que ele ria, consciente de sua inferioridade diante do físico privilegiado do parceiro. “Esse pauzinho... tão miudinho... Essa merdinha que não serve pra nada, só pra enfeitar... é tão bonitinho...”, comentou, enquanto acariciava o corpo que em breve usaria. Sabia o quanto Vítor gostava quando ele espontaneamente falava da debilidade de seu membro virgem e delicado. Isaías gostava de ver o brilho nos olhinhos do passivo ao ouvir essas palavras que, para outro homem, seria uma ofensa imperdoável.
   
Para Vítor, não era uma ofensa. Desde a primeira vez que Isaías falara algo parecido, sem pedir licença e sem qualquer hesitação, ele sentia seu corpo tremer numa confusão de vergonha, prazer e temor. Ouvi-las daquele que aceitara e se divertia com o fracasso de sua virilidade era como receber o afago que conforta e alegra um bichinho de estimação. Vítor não aparentava tamanha fragilidade. Mas, quando estavam a sós, Isaías tinha total poder, e sabia que quanto mais demonstrava este poder maior ele se tornava. Comprazia-se em ter nas mãos aquele homem, e não precisava de muito esforço para isso. Ele era seu.
   
Vítor sentia um arrepio na espinha todas as vezes que Isaías o humilhava dessa forma tão repentina, tão carinhosa e tão verdadeira. Sentia-se bem diante da superioridade do outro. Era como se Isaías o colocasse no colo e o protegesse, como se sua autoridade fosse um abrigo no qual ele pudesse repousar, descansar da batalha do dia-a-dia. Nos braços do marido, o membro rijo moldando seu cuzinho, o vai-e-vem do coito, ele não precisava ter nenhuma defesa. Sentia confiança, sentia-se seguro quando percebia nos olhos de Isaías uma incredulidade compreensiva quando, no auge das metidas mais fortes, olhava para seu pequeno membro e sorria da impotência e da delicadeza estampadas ali.
   
Ele mesmo, Vítor, demorava a acreditar quando acompanhava o olhar do marido e mirava para seu pauzinho molinho, clarinho, depilado, ali relaxado, ostensivamente incapaz de cumprir seu papel másculo. Gostava de ver seu membro repousado enquanto seu ânus era deformado pelas estocadas do macho, e chegara uma vez a sentir uma espécie de orgasmo quando Isaías tirou o caralho de seu cu e o colocou lado a lado. “Gosta da diferença?”, disse, e em seguida, de uma vez só, enfiou novamente o cacete.
   
Isaías via naquele débil órgão masculino não mais do que um adorno da sujeição do passivo, o recibo de sua submissão natural, a manifestação da obediência do outro diante da exploração de seu ânus para o triunfo do macho. Era o prazer deste triunfo que Vítor saboreava e que o fazia adorar seu homem. Naqueles momentos, era como se nada mais existisse, apenas o corpo do marido envolvendo o seu, o cacete que parecia lhe tomar por inteiro, deformando seu reto, forçando seus órgãos, deslizando por dentro dele como se ele não fosse nada mais do que isso: um corpo macio, quentinho e perfumado a serviço do homem que havia se imposto.
   
Vítor jamais havia sido verdadeiramente homem no sexo, e frente a Isaías orgulhava-se disso. Com ele, podia entregar-se totalmente: aquele homem o ensinara a ser livre. Tudo o que antes poderia ser razão de vergonha, Isaías transformara em qualidade: sua virgindade como macho, seu total desconhecimento do prazer masculino, sua falta de desejo de possuir outro corpo, a incapacidade para a penetração, a debilidade de seu membro, as formas curvilíneas de seu corpo, a obediência na cama, a carência pelo comando do mais forte. Com Isaías, tudo isso passara a lhe dar satisfação, pois aquele homem soube como lidar com suas fraquezas: ele as valorizava. E, assim, Vítor se sentia seguro com ele. As longas sodomizações, as sevícias, a supremacia do outro não lhe ofendiam: ao contrário, o realizavam. Com Isaías não era preciso competir: bastava obedecê-lo. Em troca, carinho, compreensão, afeto, proteção.
   
Com nenhum outro homem ele tivera o prazer da passividade com tal plenitude. Descobrira que a passividade não podia se limitar ao simples conformismo de ser penetrado, ou à dedicação em sugar o membro do macho como uma criança, ou à manipulação de seu corpo para o prazer de outro. Com aquele homem, ele sentia sua passividade no corpo e na alma. A seu lado, podia ser verdadeiro sem medo. Descobriu seu marido, seu deus, seu homem que roubava a autoridade e lhe dava carinho, que o possuía e ao mesmo tempo o confortava, o explorava e o protegia.
   
Agora, os dedos em vão tentando substituir a ação do homem ausente, ali na cama, soluçava de saudade. Não era mais ninguém. Após Isaías, tornara-se dependente: não havia fantasias, não havia sequer masturbação que pudesse, nem de longe, simular o prazer. Ele precisava ser preenchido, precisava sentir o calor dos braços fortes do marido, o volume de seu membro arregaçando-lhe o cuzinho delicado, a pressão do torso negro sobre seu pauzinho frágil. Isaías mostrou-lhe seu verdadeiro prazer. “É um grelinho, meu viadinho. Isso não é um pau, e é por isso que você só consegue fazer ele crescer quando se manipula. E, mesmo assim, só cresce um pouquinho, né?”, lançara logo nos primeiros dias.
   
Isaías o ensinara a aproveitar o melhor de seu pequeno membro: uma área sensível destinada ao prazer da manipulação, incapaz de manter a ereção, incapaz para a penetração, incapaz de realizar-se como um órgão masculino. E, assim, era comum que ao fim das longas sessões de penetração seu homem segurasse aquele piruzinho delicadamente, com apenas dois dedos, e o massageasse até que o parceiro atingisse o orgasmo. Enquanto manipulava, falava-lhe baixo sobre sua fragilidade, comentava sua inaptidão para a virilidade, elogiava seu cuzinho e o parabenizava por deixar-se submeter à sodomia por tanto tempo. “Eu gosto de você porque você não reclama, meu amorzinho. E porque sei que seu prazer está nessa bucetinha, e não nessa coisinha aqui”, dizia sorrindo, enquanto pacientemente movimentava o pequeno membro. “Você é a minha mulherzinha; a minha mulherzinha que tem um grelo em forma de piruzinho”.
   
Vítor olhava com devoção o sorriso carinhoso e ao mesmo tempo sarcástico do marido, abandonando-se àquela masturbação quase feminina à qual seu homem o acostumara, até que as gotas de seu sêmen saíam num gozo quase silencioso, sensível, frágil. Isaías observava satisfeito o orgasmo delicado de seu pequeno viadinho, os gemidos tão acanhados, os pequenos tremores no corpo que usara minutos antes, o órgão frágil que logo diminuía entre seus dedos, molhado daquele esperma que talvez fosse a única manifestação masculina ali.
   
“Ele chora como uma criança”, disse uma vez, olhando para as gotas que saíam daquele piruzinho que logo voltaria a ter não mais do que dois dedos de comprimento. Olhou para aquele homem de aparência masculina porém frágil feito uma criança e não pôde conter o cacete, que novamente postou-se duro, como minutos antes. Sem aviso, pegou Vítor com firmeza e o pôs de bruços. Cravou o caralho sem pena, arrancando um gritinho abafado do outro. Ainda exausto, Vítor deixou-se penetrar, servindo a seu macho mais uma vez, sem qualquer resistência, sem reclamar, sem pedir nada que não fosse a plena satisfação do outro. Era seu marido que estava ali, era seu dono.
   
As lembranças vinham à mente, uma após outra, e eram tão presentes que pareciam ter acontecido não mais do que algumas horas antes. O membro demorou a ficar mais durinho, e então Vítor voltou a manipulá-lo como Isaías lhe ensinara mais de um ano antes. “Isso não é punheta; isso que você só consegue fazer usando dois dedos é siririca, Vítor. Você toca siririca, meu amor”, o macho lhe ensinara uma vez, e parecia repetir agora em seus ouvidos. Então teve um orgasmo, ali sozinho, na cama, e a tristeza lhe tomou de vez.
   
Os olhos fixos, o corpo abandonado, o pensamento apenas no macho que perdera; no macho que exigira demais dele e que ele não teve como alcançar: “Você é mal resolvido. Vê se resolve essa cabeça pra depois poder ter um macho”, lhe dissera Isaías, diante das vacilações de Vítor em submeter-se a seu domínio também fora da cama. E nunca mais voltou para servir-se dele.
   
As lágrimas lhe vieram aos olhos, mas ele não chorou. A bundinha empinada, o membro melado murcho sobre os lençóis, os flancos macios e generosos, o corpo de Vítor agora abandonado à solidão não tinham mais sentido sem o dono ao qual saciavam. Aos poucos, voltou a adormecer. Seu homem não estava ali; a masturbação não lhe bastava; ele precisava ser abraçado, seu sexo esgarçado e preenchido por Isaías. Saudade.
   


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