Menino do Pijama Preto


BY: Petry Capitulo I

Eu estava muito ansioso para meu intercâmbio que ocorreria em menos de duas semanas. Já estava tudo organizado, tudo planejado e eu revisava tudo que teria que levar metodicamente todas os dias. Repetia este mesmo ritual há mais de um mês.

Foi difícil conseguir este intercâmbio em um projeto em uma universidade tão reconhecida de Portugal, mas eu estava lá, prestes a embarcar em uma aventura fantástica em busca de meu sonho: um dia ser um escritor renomado. Com apenas 19 anos eu estava terminando minha faculdade de direito e iria ficar em Portugal por seis meses fazendo parte de um núcleo de pesquisa de cultura e de direitos indígena que tanto estudei com dedicação.

Antes de começar a pensar na viagem novamente, resolvi checar mais uma vez todos os detalhes, isso incluía olhar os email para verificar se havia novas informações em minha caixa de entrada. Para minha surpresa havia uma mensagem da universidade me desejando boas-vindas e me dando informações como alojamento e o nome do meu companheiro de quarto. Pra minha surpresa, eu iria dividir meu alojamento com um Brasileiro. Isso me deixou feliz, teria com quem conversar e não estranharia os hábitos culturais.

- Será que ele também faz o curso de direito? Me perguntei ansioso por saber mais acerca do meu companheiro de intercâmbio.

As duas semanas passaram voando, embarquei um dia antes para São Paulo. Minha ansiedade estava à flor da pele, tentei ouvir música com meus fones de ouvido, mas nada me distraia.

Sentado na sala de embarque, segui nos meus devaneios até escutar um burburinho atrás de mim.   

- Saia do meu lugar, babaca. Disse um menino que aparentava ter a minha idade ou pouco mais do que eu.
- Não havia nada escrito na cadeira quando eu sentei. Respondeu um homem de 30 anos ou mais.
- Minha mochila estava aí do lado.
- Então ocupe a cadeira onde está a sua mochila.
- Saia. Agora. Da. Porra. Do. Meu. Lugar. Ele falou baixo e extremamente intimador.   

Os músculos dele se contraíram com tanta força que provavelmente ele estava esmagando a cabeça do homem mentalmente. O derrotado claramente entendeu o recado e saiu.

Assisti a tudo aquilo achando muito patético. Um mauricinho que pensa que pode gritar e rosnar para qualquer um só porque tem músculos grandes?

Minha antipatia pelo sujeito foi tão grande quanto a atração que senti por ele. Embora estivesse vestido como alguém que recém caiu da cama, ele era inacreditavelmente atraente. Ele usava um casaquinho estilo canguru (verde-escuro) e uma calça de moletom preta que eu poderia jurar que era sua calça de dormir.

Por trás daquela roupa esquisita havia um moreno, sua cor me fez lembrar de açúcar queimado – aquele que usamos para fazer pipoca caramelada. Os olhos castanho-mel que pareciam se realçar ainda mais com um bronzeado natural. Ele não era muito mais alto que eu, embora eu não fosse um desprivilegiado em altura, deveria beirar a casa do um metro e oitenta.

O que mais me incomodava era aquela calça de mal gosto, não sei se por ser de extremo mal gosto, ou por deixar o seu sexo ainda mais provocante.

- Benza Deus. Pensei comigo mesmo.

Afastei estes pensamentos insano enquanto a sala de embarque enchia. Fiquei vagando os olhos sobre as pessoas e me questionando acerca do meu companheiro de intercâmbio. Eu mandara um email pra ele perguntando quando ele embarcaria, mas ele não me respondeu. Dois dias antes da viagem lhe enviei mais uma mensagem avisando quando e que horas eu iria embarcar. De novo, nada.
Pensei que talvez ele não tivesse visto. Mas quem não olha seus emails faltando tão pouco tempo para uma viagem a outro país? Ou, talvez, eu tivesse escrito seu nome errado no e-mail.

Todos começaram a embarcar no avião e eu fui um dos primeiros a fazê-lo. Aquela espera de todos ocuparem seus lugares sempre me deixava nervoso.

Os lugares no avião estavam quase todos ocupados, exceto o assento ao meu lado. Mais espaço pra mim, pensei. Minha esperança de uma viagem mais confortável durou pouco. Quando olho para a outra extremidade do avião, o menino parrudo e marrento vem andando. Na verdade, o andar dele era quase um desfile, ele sabia como ser sexy. Se eu tentasse, provavelmente tropeçaria nos meus próprios pés! As meninas que estava sentada à fileira da direita se ouriçaram e se cutucaram quando ele vinha vindo. O menino parece não ter notado, ou talvez já estivesse acostumado com aqueles olhares.

Nem eu acreditei quando ele sentou ao meu lado. O cheiro dele era forte, um perfume cítrico com um toque salgado que dava vontade de sentir cada vez mais de perto. Sabe aquela pessoa que você sente vontade de se dependurar no pescoço só pra sentir mais um pouco do cheiro?! Então, era isso.

Abri um lindo sorriso, e disse:

- Tudo bem? Serão doze horas de viagem, prazer, Yuri Bentri.
- Oi. Disse ele com a cara fechada.

Melhor eu não tentar ser agradável com este sujeito, serão as 12 horas mais longas da minha vida.

Já voando, depois de uma hora de viagem, aquele cheiro não diminuía de intensidade e parecia ter me deixado inebriado. O garoto cujo nome eu não sabia estava comendo umas bolachas e comecei a acompanhar o trajeto em que as migalhas fazias até seu colo. Olhei uma vez, olhei mais uma. "Não posso ficar olhando", pensei comigo mesmo. Me distrai olhando o lindo cenário que via da minha janela, até o passageiro sentado ao meu lado se mexer levemente. Foi impossível não reparar o local onde as mãos deles repousaram.

- Olha mais uma vez pro meu cacete que você vai ver o que vai te acontecer.
- E.e.e.e.u, não estava olhado.
- Você está avisado. Grunhiu o mal-educado.
Envergonhado, virei para o lado e tente dormir. "Que sujeito ridículo".

Tudo que eu precisava era arrumar inimizade com alguém que eu nem conhecia e que, convenhamos, eu não estava assediando. Ok! Talvez eu tenho olhado mais de uma vez, mas não era pra tanto.

Agora faltava menos de três hora para a viagem terminar. Me ajeitei na poltrona e dei uma olhada de leve para o lado. Todos os passageiros seguiam dormindo e as luzes do avião ainda estavam apagadas. Meu companheiro de viagem parecia estar dormindo e de óculos escuros, não havia como eu ter certeza, mas como todos dormiam, concluí que ele também o fazia. “Se ele não me ver olhando, não tem problema. Vou olhar de novo, mas agora com mais calma. ” Foi o que pensei e o que fiz.

Seu abdome subia e descia lentamente. Seu rosto era tranquilo, mesmo de óculos pude perceber que estava em paz. Seu casaco era justo e desenhava seus braços fortes e volumosos. Suas pernas estavam esticadas, o que facilitava a visão de seu volume um pouco desperto. Apreciei a imagem por longos cinco minutos e me virei novamente para a janela, abrindo um pouco a persiana para ver se já havia amanhecido.

Houve um movimento rápido e silencioso. Demorei para entender que alguém estava pressionado meu pescoço contra a janela do avião. O primeiro intuito foi gritar. O segundo foi tentar entender o que estava acontecendo. Até que minha visão ficou clara quando meus olhos focaram nos olhos cor de mel.

- Eu te avisei que não era pra olhar, não avisei?

Tive apenas vinte segundos para entender o que ele falou e elaborar minha linha argumentativa que usaria para dizer que eu olhei sem querer. Não houve tempo. Quando tentei protestar ele calou minha boca com um beijo.

Primeiro senti o calor dos lábios dele. Depois, senti a humidade e depois o sabor do beijo. Embora ele estivesse dormindo, não era ruim o gosto de sua boca. Sua língua invadiu minha boca lentamente. Era lento, mas forte. Seu beijo parecia uma correnteza de rio em dia de enchente. Silenciosa, entretanto devastadora.

Sua mão foi deslizando pelo meu rosto até chegar em meu peito. Ele deixou a mão descer lentamente até minhas pernas e as acariciou. Na mesma hora uma corrente elétrica percorreu todo meu corpo. Tudo estava acontecendo muito rápido. Todas as sensações juntas.

Tudo o que eu queria era estar em uma cama com ele. Era só isso que invadia meus pensamentos. Fechei os olhos para curtir aquela sensação que eu queria que fosse infinita. De olhos fechados, senti uma forte dor na minha cabeça. Novamente senti essa dor. Meus olhos estão ardendo também. As luzes se acenderam. Há alguém falando alguma coisa:

- Senhores passageiros, em 15 minutos serviremos o café da manhã. Espero que todos estejam fazendo uma boa viagem.
Não sei o que me deixou com o humor pior: ser acordado por uma turbulência seguida de um bom dia do comandante do avião, ou o fato de meu sonho ter sido interrompido na melhor parte.

O avião aterrissou com tranquilidade. Todos pegaram suas bagagens, inclusive meu vizinho de poltrona, que não se prestou sequer a me dar bom dia. Mas enfim, ele estava indo para nunca mais vê-lo.

Tomei um táxi na saída do Aeroporto e depois de 20 minutos estava entrando no meu alojamento. Era um lugar simples, mas bonito: uma cama de solteiro, uma escrivaninha com uma luminária e um roupeiro. Tudo que tinha no lado direito do quarto se repetia do lado esquerdo, de modo que as camas ficavam lado a lado, separadas a penas por um criado-mudo.

Sentei na cama e curti alguns minutos a solidão, fiquei admirando a porta do quarto que era de uma madeira escura. Então essa mesma porta bonita e artística se abre em um movimento rápido e forte. Empalideci. Fiquei mudo por alguns segundos. Meu companheiro de quarto me acompanhou durante toda a minha viagem.

- Você é o Santiago Filypins? Eu disse o nome dele como se fosse o nome de algum assassino em série que estava sendo procurado pela polícia.
- É o que parece. Disse o menino que parecia estar vestido com um pijama preto.
- Eu... Eu... Bem, seja bem-vindo, ou melhor, prazer, eu sou o Yuri.
- Você já me falou o seu nome, esqueceu?
- Ah, desculpe, só estava tentando ser simpático.
- Simpático? Sei!
Mentalmente revirei os olhos! Que cara mais mal-educado! Acabei de decidir que eu o odeio.
- Bem... então... eu sou aluno do curso do direito e ficarei seis meses para fazer um estudo acerca da cultura indígena no curso de direito aqui...
- Se você não se importa, eu não estou muito afim de papo. Na verdade, eu não gosto muito de papo. Vamos deixar para contar histórias nas aulas que haverá.
- Tudo bem. Eu disse ainda meio constrangido com o que ele falou.

Há menos seis horas eu havia discutido com o meu colega, em menos de três horas eu havia beijando-o em menos de dez minutos eu havia descoberto que havia arrumado um problema por seis meses. Meu primeiro dia na Europa não estava saindo nenhum um pouco parecido com o que eu imaginava.


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Olá, pessoal, O Menino do Pijama Preto é um piloto de um livro, um romance que em breve esteja nas livrarias. Conto com a ajuda de todos pra construir essa novela. Postarei de dois em dois dias. Me ajudem comentando. Beijos   



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