BY: Samwiser Depois de me recuperar do choque que aquele paciente me proporcionou, atendi mais alguns necessitados pelo resto da manhã e decidi ir pra casa.
Estava de férias, na verdade, so que eu não me sentia bem em casa, sem fazer nada. Sim, eu era viciado em trabalho, para mim era como uma valvula de escape que me impedia de pensar demais como minha vida pessoal estava: Uma tragedia grega, estilo Edipo, O Rei.
Não gostava de usar meu carro para ir ao trabalho, fato que me rendeu o ocorrido hoje. No caminho para casa, passei numa patisserie. A loja tinha muitos espelhos proximo ao balcão, com todas as delicias de chocolate que eu amava, então tratei logo de pegar o que iria comprar.
Não gostava de me olhar no espelho, muito menos de tirar fotos.
Não era uma questão de estética, eu ate que dava pro gasto. Meus olhos eram verdes e meu cabelo tinham uma tonalidade castanho claro. Meu corpo era ok, não tinha muita definição, mas era esbelto, com tudo " em cima", como se diz. O unico defeito sobressalente era minha pele. Eu era muito branco. Não que seja um defeito, mas não havia bronzeado ali, apenas o branco da cor que me acompanhava enquanto ainda era bebê. Não havia mudado muito. Minha adolescencia tinha sido tipicamente pachorrenta, por conta dos estudos, então eu tinha pelo menos essa desculpa.
O Sol constante de Sunnyville e eu não eramos muito intimos. Mesmo quando eu saia para comprar pão, minha mãe me entupia de protetor. Acabei adotando aquela pratica. Agora era um hábito religioso para mim.
Adiei esses pensamentos que me assaltavam para serem refletidos na quietude de casa. Caminhei pelo calçadão de Sand Paradise, a única praia da região de Sunnyville, sentindo o vento fresco e recentemente mais umido, devido a maldita chuva de mais cedo.
Cheguei na minha rua e logo uma sensação de que alguem estava atras de mim me sobreveio. Virei abruptamente, esbarrando na ultima pessoa dessa cidade que eu gostaria de encontrar agora.
- Ai! - exclamou ele - Olá, Leon, estava com saudade.
- Tinha que ser você...
Revirei meus olhos, bati a poeira e continuei andando em direção a minha casa. Seus paços me seguiam como se fosse um cachorrinho.
- Sai do meu pé, Rodrigo. - Repreendi, suspirando - Hoje não, por favor.
Rodrigo Volantis era uma criatura a ser estudada pela Nasa. Ele era muito bonito, sim. Seu corpo exalava sensualidade, com seus 1,90 de altura, musculoso de olhos claros e cabelos desalinhados cor de cobre. Mas claramente não tinha senso de conveniência, alem de ser mal educado e grosso comigo.
Sem falar no fato de que vivia dando em cima de mim, - sim ele era gay - embora nunca tenha dado indicio de que um dia ele teria chance comigo.
Suas covinhas se fecharam, e agora ele andava do meu lado quieto.
- Ta tudo bem com você? - disparou Rodrigo - aconteceu algo no hospital?
- NÃo se preocupe - respondi, cabisbaixo - Foi so um dia confuso. Vou sobreviver.
Ele riu baixinho com minha resposta, sempre fazia isso. Dei um sorriso amarelo.
Ele era aquele tipo de vizinho que você gostaria de encontrar um buraco para se enfiar para não ter que começar um diálogo.
O Sol agora assumia uma cor alaranjada, o que combinava muito bem com seus cabelos e sua barba rala cor de cobre.
Ele sorriu, timido, o que me deixou ainda mais confuso, pois ele definitivamente não era uma pessoa timida.
Estavamos parados em frente ao portão da minha casa, eu estava prestes a girar a chave no orifício da trancadura, quando, subitamente, me bate uma onda de angustia e terror so em pensar em ficar sozinho naquele mausoléu silencioso.
Me virei para ele, dando meu melhor sorriso.
- Você quer entrar? - perguntei, esperançoso. Precisava de alguem para ocupar minha mente, impedindo-me de pensar o que ocorreu no hospital.
- Claro! - Seu rosto se iluminou e vi ali uma centelha de simpatia nascer em mim.
Rodrigo era mesmo uma pessoa agradavel quando queria ser, apesar de ser grosso na outra metade do tempo.
Entramos e ele foi logo se ocupando do sofá em frentre a TV.
- Senta aqui, Dr.Griffin - disse, insinuando o lugar perigosamente perto dele no sofá- Me conta o que houve.
Não dei bola para o que ele disse e fui logo subindo as escadas pro meu velho quarto. Tinha sido meu desde que eu nascera. A unica diferença desde aquela epoca era agora um computador no lugar do berço e uma cama de casal. Fora, é claro, minha mesa de estudos da epoca da faculdade abarrotada de livros de medicina.
Havia também uma estante com minha coleção particular de livros que eu não me cansava de ler, como Harry Potter e O Codigo Da Vinci. Sim, eu era ainda bem adolescente nesse quisito, mas era disso que eu gostava.
Tomei um banho, tentando ser rápido e eficiente. Por alguma razão que desconheço, Rodrigo era uma pessoa de confiança para mim, só o conhecia há 1 anos apenas, mas eu me sentia confortável em deixa-lo sozinho na sala de estar.
Coloquei um moletom surrado que eu guardava no fundo do armário e uma calça jeans desbotada.
Satisfeito, desci as escadas e encontrei Rodrigo ainda na mesma posição.
- Você não faz nada o dia inteiro? - perguntei, me sentando ao seu lado.
- Claro que faço! - sorriu ele - Eu sou muito competente em dormir o dia inteiro, ue!
Gargalhei, sabia que ele iria dizer algo do tipo. Subitamente, ele deita-se com os pés pro outro lado e sua cabeça faz meu colo de travesseiro. Não recuei.
- Então, quer conversar? - pergunta.
- Não. - digo, fazendo um cafuné no seus cabelos cobreados - Infelizmente, é algo muito particular para dividir com qualquer um.
Suas sobrancelhas se arqueiam
- Eu sou qualquer um? - Seus labios formam um beicinho.
Ele estava sendo realmente fofo comigo, então decidi contar um pouco, talvez ajudasse desabafar.
- Eu atendi um paciente hoje que me deixou... - pensei nas palavras certas para aquela situação - Confuso. E nervoso.
- Hum - Seus olhos se fecharam e so seus lábios rosados se moviam agora - E o que ele tinha que te deixou assim?
Corei instantaneamente, agradecendo aos ceus por ele ter fechado os olhos.
- Ah... Sei la - Me fiz de burro.
- Era um homem, então? - interrogou como se ja fizesse uma suposição.
Pude notar o desconforto em seu semblante. Ciumes, talvez.
- Sim - Admiti, suspirando - Estou ficando igual a você, não é?
- Gay? Não, desculpa, mas você não se encaixaria! - Riu ele - Nunca vi uma gay tão antissocial.
Abri a boca levemente, mas contive minha respostada. Ele estava certo, eu não me encaixava. Isso servia pra tudo em minha vida. Talvez tenha sido por isso que eu era tão bem sucedido no trabalho, mesmo tendo apenas 25 anos.
A medicina tinha sido minha vida ate aquele momento, meu refúgio. Era nela que eu tentava provar para mim mesmo que eu dera certo em alguma coisa. Que mentira. Passei tanto tempo construindo minha vida que tinha deixado de lado a parte do viver.
- Levanta, vai - empurrei sua cabeça.
Ele riu como se não se importasse de magoar meus sentimentos. Mas eu sabia que era simplesmente porque ele não se ligava muito no efeito de suas palavras em mim. Como eu disse, ele era grosso.
- O que tem para comer de bom? - falou Rodrigo, se dirigindo a cozinha.
Estreitei os olhos. Odiava aquilo. Odiava que mechessem na minhas coisas, sobretudo na cozinha. Era meu santuário particular que somente eu tinha acesso.
- Nem pense em dar mais um passo, Rodrigo! - Adverti, olhando desafiadoramente para ele - Vai para casa, não fiz nada ainda para degustar.
Ele entendeu o recado, ja sabia do meu ciumes sobre aquilo. Riu, satisfeito em me incomodar.
- Ok, Dr.-Não- Toque- Nas-Minhas-Coisas - Foi se dirigindo a porta - Ate mais, Leon - Piscou o olho para mim.
Saiu sorridente, como uma criança pirracenta. Eu retiro o que disse, ele era mesmo irritante, nada de amistoso ou fofo.
Olhei através da janela da cozinha. Ja era noite e eu estava morrendo de fome. Decidi ir preparar algo para comer, um ceviche de salmão, talvez. Amava peixe cru.
Depois de comer, decidi que não queria mais prolongar essa noite. Fui dormir relativamente cedo, e aquilo foi um erro.
Tive um pesadelo com a morte de meus pais, pra variar. Acordei assustado e suando frio, fiquei sem sono. O visor do relogio marcava 3: 54 da madrugada.
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Sem Rótulos - Capítulo 01 - Chuva imprevisível